O olhar do professor – Rubem Alves
“Walt Whitman conta o que sentiu quando, menino, foi para a escola:
Ao começar os meus estudos, agradou-me tanto o passo inicial, a simples consciencialização dos fatos, as formas, o poder do movimento, o menor inseto ou animal, os sentidos, o dom de ver, o amor – o passo inicial, torno a dizer, assustou-me tanto, agradou-me tanto, que não foi fácil para mim passar e não foi fácil seguir adiante, pois eu teria querido ficar ali a vaguear o tempo todo, cantando aquilo em cânticos extasiados.
Nietzsche disse que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. É a primeira tarefa porque é através dos olhos que as crianças, pela primeira vez, tomam contato com a beleza e o fascínio do mundo. Os olhos têm que ser educados para que a nossa alegria aumente.
Já li muitos livros sobre psicologia da educação, sociologia da educação, filosofia da educação, didática, metodologias – mas, por mais que me esforce, não me consigo lembrar de qualquer referência à educação do olhar, ou à importância do olhar na educação.
Por isso, lhe digo: Professor: trate de prestar atenção ao seu olhar. Ele é mais importante que os seus planos de aula. O olhar tem o poder de despertar ou, pelo contrário, de intimidar a inteligência. O seu olhar tem um poder mágico!
O olhar de um professor tem o poder de fazer a inteligência de uma criança florescer ou murchar. Ela continua lá, mas recusa-se a partir para a aventura de aprender. A criança de olhar amedrontado e vazio, de olhar distraído e perdido. Ela não aprende. Os psicólogos apressam-se em diagnosticar alguma perturbação cognitiva. Chamam os pais. Aconselham-nos a mandá-la para uma terapia. Pode até ser. Mas uma outra hipótese tem que ser levantada: que a inteligência dessa criança – que parece incapaz de aprender –, tenha sido petrificada pelo olhar do professor.
Por isso lhe digo, professor: cuide dos seus olhos”…
Rubem Alves
🌱 O Olhar que Educa: uma Pedagogia da Esperança e da Paz
Rubem Alves nos alerta para algo invisível, mas profundamente transformador: o olhar do professor. Vivemos em tempos difíceis, em que a escola é muitas vezes cenário de exaustão, tensão e pressa. As demandas são muitas, os desafios diversos, e é compreensível que o cansaço se acumule. Mas é exatamente nesse cenário que o olhar do professor se torna um ato político e afetivo de grande responsabilidade.
Rubem Alves nos lembra que “o olhar do professor tem o poder de despertar ou, pelo contrário, de intimidar a inteligência”. E isso vai muito além do desempenho acadêmico. Um olhar duro, ríspido ou indiferente pode silenciar um aluno por dentro. Pode paralisar sua coragem de perguntar, de tentar, de errar, de aprender.
É comum que no Fundamental 2, fase de tantas transformações físicas, emocionais e sociais, os alunos cheguem mais agitados, provocadores, desinteressados. Mas será que isso não é, muitas vezes, um grito por atenção, por afeto, por pertencimento? Será que por trás daquele aluno “difícil”, não há alguém que precisa desesperadamente de um olhar que diga: “Eu vejo você. Eu acredito em você.”?
💬 O professor é um formador de consciências, não apenas um transmissor de conteúdo.
O modo como olhamos para nossos alunos pode ensinar muito mais que nossa matéria. Ensina sobre humanidade. Ensina sobre respeito. Ensina sobre justiça.
Por isso, falar sobre o olhar do professor é falar de responsabilidade social. Porque uma escola que educa para a paz começa com professores que cultivam relações pacíficas, justas e acolhedoras. Uma escola inclusiva não se constrói apenas com legislação, mas com olhares que acolhem as diferenças, valorizam os ritmos diversos e respeitam os contextos de cada aluno.
👉🏽 O olhar que julga, ridiculariza ou ignora, fere.
👉🏽 Mas o olhar que escuta, compreende e espera, cura.
Professor, professora: seu olhar pode ser a chance de um recomeço.
Pode ser o único momento do dia em que aquele aluno se sente visto com dignidade.
💡 Educar o olhar é o primeiro passo para educar o coração.
✨ Para refletir com o grupo:
👉🏽Como está o meu olhar para com os alunos? Que tipo de sentimento ele transmite?
👉🏽Estou promovendo, com meu comportamento e meu tom, um ambiente que favorece a aprendizagem ou que a bloqueia?
👉🏽Que atitudes posso transformar para que meu olhar contribua para uma pedagogia mais inclusiva, empática e construtora de paz?




